O Teatro Breve

“Em certos cursos de certas universidades, em certos países deste mundo, estudava-se, às vezes, uma cadeira que se chamava Formas Breves, por vezes A Forma Breve. Basicamente, era uma disciplina que incidia sobre uma categoria literária, “a forma breve”. É uma forma tão antiga como o mundo, pelo menos o mundo literário e, segundo alguns académicos, começaria por nascer da dificuldade da relação entre a escrita e os materiais da escrita. Mesmo assim, as pessoas escreviam. A forma breve pode ir do Hai Ku ao epigrama, do poema em prosa ao aforismo. E, de maneira mais banal, também inclui, mais perto de nós, os poemas em prosa de Baudelaire, os contos de Sommerset maugham ou de Maupassant, as histórias de max Aub e, muitas peças de teatro. Neste campo, a fortuna das Formas Breves é enorme, de Feydeau a Samuel Beckett. Claro, se bem que a brevidade seja uma vantagem para quem não tem tempo para a grande extensão, dela – brevidade – não decorre que esse carácter mais ou menos reduzido implique qualquer espécie de limitação artística ou, no caso do destinatário, qualquer limitação na capacidade de recepção. A Forma Breve é um modelo de concisão, de estruturação, de inteligência e, em ultima análise, uma provocação: não existe sem um exercício ou actividade intelectual fundamental até há poucos anos: chamava-se interpretação.
Assim é o Teatro rápido, instituição lisboeta que tem crescido à margem, felizmente, do binómio rimado rapidez/estupidez, característico de muita da treta contemporânea, tanto artística como política, especialmente esta última. Quatro peças por mês, quize minutos cada uma.”

João Carneiro
Expresso (Actual) 10 de Agosto de 2013